Entrevista
Francisco Laranjo, ARTISTA PLÁSTICO
A falta de curiosidade e de cultura, segundo afirmou numa entrevista recente ao JN, são responsáveis pelo mau estado da arte. O que pode um artista fazer?
Ser o mais honesto que puder! Quando disse que a falta de curiosidade é grave, é porque acho que um investigador tem a responsabilidade de procurar toda a informação e os meios que o possam levar mais longe para ser consequente com o seu trabalho. Os autismos de grupos e guetos que não são, de todo, benéficos para um maior aproveitamento e bem-estar dos artistas, e essa cultura de exigência e qualidade é a que faz mais falta.
No caso dos jovens artistas que passam pelas suas aulas na FBAUP, têm condições para ultrapassar esse autismo de que fala ou cada vez é mais difícil entrar no mundo da arte e começar a expor?
Um artista é, antes de tudo, um profissional com responsabilidades acrescidas.
Responsabilidades sociais?
Sociais, também. Mas com responsabilidades acrescidas. Por ser independente corre mais riscos, mas deve cultivar essa postura. Tem que criar condições físicas, materiais, para poder ter legitimidade de dizer o que pensa. Não ser dependente seja do que for é um bem essencial a um artista.
Mas quem não vende não sobrevive...
Quem tem convicções tem que lutar por elas, não tem que ser subserviente ou fazer o que está na moda. Quem quiser ser do seu tempo nem do seu tempo chega a ser! Independentemente do trabalho do artista na sua área, ele deve encontrar condições externas para a fazer legitimar. Um dos sectores da sociedade que mais pode contribuir para o desenvolvimento é a área criativa.
A sua investigação pictórica, desde os anos 70, é um exemplo de perseverança. É uma pessoa insatisfeita?
Só sou exemplo para mim próprio! Sim, sou um inconformado, estou sempre à procura de saber mais e, muitas vezes, fora dos meus interesses plásticos - quer no trabalho em estúdio quer como orientador de outras investigações. Não tenho a certeza de alguma coisa, mas estou sempre à procura de fazer o que ainda não descobri, de me ultrapassar, de estar mais atento a outras linguagens que não só a pintura ou a fotografia.
Mário Cláudio disse que havia na sua pintura "lugares de habitação". Concorda?
Sim, isso tem que haver. Se não, estamos a falar do vazio.
Embora, nos seus quadros, o vazio tenha um peso. Como o silêncio.
Exactamente. O silêncio é tão importante como a ausência dele, é o silêncio que faz existir o som e o ruído. Gosto muito de viajar e aprendo muito nessas circunstâncias.
E as diferenças culturais acabam por ter também repercussão na sua obra, nos registos de cor, de expressão, de força utilizados em cada um dos quadros...
Não conto histórias na pintura, mas espero que os objectos, na sua existência própria, tenham essa capacidade de questionar o indivíduo sobre si mesmo, sobre o modo como ele está e pensa sobre si próprio. Se conseguir isso, valeu a pena. Sempre que faço uma exposição tenho sempre alguma apreensão sobre o comportamento dos objectos fora do contexto do estúdio.
Como é que acha que vão comportar-se estes quadros em relação com o espaço da Galeria do DN, dominada pelos painéis de Almada Negreiros?
Vai ser um desafio! [risos] Esta galeria é belíssima como espaço. E será a primeira vez que exponho com Almada, é um privilégio!
Fonte: DN
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