Ciclo O Sabor do Cinema - Momento XIII
20 Abr 2008 - das 16:00 às 19:00 - AUDITÓRIO O ESPÍRITO DA COLMEIA, Victor Erice, Espanha, 1973, 97'
(maiores de 12 anos)
Realizado pelo talentosíssimo - embora pouco prolífico - cineasta Victor Erice, esta é uma obra que reflecte acerca da ténue fronteira entre a realidade e o imaginário. Erice subscreveria porventura o aforismo do poeta surrealista Jehan Mayoux: «o imaginário é uma categoria do real e reciprocamente». Para este filme que o tornou conhecido dum vasto público e no qual se convoca o monstro demasiado humano criado por um moderno Prometeu, Erice decidiu dar às suas personagens o nome dos actores que as interpretam. Conta-se que a muito jovem Ana Torrent, protagonista desta ficção fílmica, não conseguia entender a razão pela qual a chamavam de outra maneira enquanto imagem-personagem. Esta opção do realizador, plena de significado, indica-nos uma boa porta para o universo que Erice constrói e restitui - com um pé bem firmemente enterrado nos silêncios duma Castela vitimada pelo franquismo e outro pé atolado na infância nunca definitivamente silenciada, motivo permanente de inspiração e norte magnético da sua obra.
11 Mai 2008 - das 16:00 às 19:00 - AUDITÓRIO O DESPREZO, Jean-Luc Godard, França/Itália, 103'
(maiores de 14 anos)
O DESPREZO de Godard está longe de ser a primeira experiência de cinema dentro do cinema, de reflexão sobre o fazer fílmico pelo lado de dentro. Contudo, graças a um concurso ímpar de ingredientes - ao qual não são obviamente alheias as intuições travestidas de vidências de Godard - este filme-culto consegue «matar» duma cajadada questões tão díspares como as das relações entre cinema e literatura, cinema e indústria, cinema e mercado, cinema e comércio de emoções, etc. Através da figura inquietante de Fritz Lang - expressionista alemão exilado em Hollywood - e da do seu antagonista - o produtor americano - somos colocados na impossível situação de partilhar com os protagonistas questões que poderiam ser as do primeiro ou as do derradeiro filme realizado à face da terra. E, se é verdade que o último plano elimina simbolicamente do ecrã o produtor e a estrela Bardot, fica-nos ainda assim o amargo travo de um segredo de Polichinelo: a condição sine qua non do cinema, fábrica de sonhos híbridos, é sujar as mãos nas águas mais turvas da realidade.Programação: Os Filhos de Lumière
www.serralves.com
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