03/05/12

Artigo de Opinião: O Papel das Indústrias Culturais e Criativas

A definição concreta de indústrias culturais e criativas e quais as indústrias que poderão ser incluídas no conceito não é uma questão unânime. Desde Howkins a Hesmondhalgh, à consulta pública do Livro Verde das Indústrias Culturais e Criativas, da Comissão Europeia e ao Relatório Economia Criativa da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, as sobreposições de definições são várias. Também são variadas as zonas de discordância, especialmente sobre qual o alcance dos termos “indústrias criativas”, “indústrias culturais” e “economia criativa”.


No entanto, e fora do escopo desta discussão, é inegável que são muitas as indústrias presentes nas economias mundiais cujas fontes de rentabilidade se traduzem na utilização da criatividade e na sua aplicação cultural. Cada vez mais a criatividade desempenha um papel fulcral no desenvolvimento económico dos nossos tempos. As indústrias Culturais e Criativas (ICCs) estão presentes em setores como a arquitetura, a publicidade, o design de moda, o design de comunicação, a fotografia, o cinema, enfim – muitos outros poderiam ser enumerados para mero preenchimento de carateres.

A criatividade é algo que está na base do sucesso da capacidade empreendedora dos indivíduos e também da sua capacidade de pensar “out of the box”. A resolução de problemas prevê na sua génese um olhar criativo e inventivo, capaz de encontrar soluções diferentes, de testar outras possibilidades, de arriscar, de, em certa medida, ir mais longe. Deste modo, aplicar-se a criatividade à indústria é tão-somente natural como também necessário ao desenvolvimento das sociedades pós-modernas deste mundo globalizado.

Esta mudança de paradigma de trabalho e de geração de riqueza através da criatividade tem sido explorada e descrita por autores como Richard Florida, que defendem que existe uma participação direta e indireta das ICCs nas economias na ordem dos 30%, incluindo indústrias indiretas como a subcontratação de serviços a empresas que não se inserem nas ICCs. Os números variam consoante as estatísticas e também os locais – há cidades mais propensas ao desenvolvimento de Indústrias Culturais e Criativas do que outras.

No entanto, e para reduzir a crítica de que esses valores são otimistas de mais, assumamos uma participação direta e indireta das ICCs mais modesta. Qualquer coisa na ordem dos 17%, como é o caso da Europa, onde é assente que as ICCs contribuem para cerca de 17% do PIB europeu. É de facto um valor que não deve ser ignorado, tanto mais que recentemente a Comissão Europeia apresentou o programa Europa Criativa, com uma proposta de orçamento de 1,8 mil milhões de euros para o período de 2014-2020 para apoio aos setores culturais e criativos europeus, fundindo num único os programas Cultura, MEDIA e MEDIA Mundus.

Potenciar o desenvolvimento de indústrias baseadas na criatividade é apostar em economias flexíveis e adaptativas, baseadas num espírito empreendedor.

Texto Rogério Sousa, Presidente da Associação Cultural Burra de Milho

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