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Exposições até 7 de Setembro
A arte contemporânea muda-se para o Algarve no Verão
Se o destino é o Sul do país nesta época, não será difícil encontrar bem perto uma exposição de arte contemporânea para ver depois de um dia de praia. Este ano, com o programa de arte contemporânea da segunda edição do Allgarve, e com outras iniciativas como o “Verão em Tavira”, parece que a arte contemporânea está bem viva a Sul do país, pelo menos até 7 de Setembro, data de encerramento da maioria das exposições.
O programa de Arte Contemporânea desta segunda edição do Allgarve é extenso. Foi desenvolvido pelo Museu de Serralves e apresenta sete exposições com cerca de 60 artistas nacionais e internacionais espalhados por vários locais - dos "clássicos" espaços de exposição a praias, aeroporto e “outdoors”, passando por antigos conventos, e uma mina de Sal-Gema.
“Mundos Locais”, “Holidays in The Sun” e “Articulações” são as exposições centrais, com muitas instalações adaptadas ou feitas especificamente para os locais escolhidos. Mas também se pensa a arquitectura com “Reacção em Cadeia: Transformações na Arquitectura do Hotel”, uma exposição que reflecte uma das indústrias principais do Algarve: o turismo. Também inseridas no programa estão representações de colecções – como a Colecção Berardo, com obras de Bill Viola e James Turrell e a Ellipse Foundation com filmes de William Kentridge e a colaboração com o Festival Internacional de Fotografia Y Artes Visuales - PhotoEspaña, com uma mostra do espanhol Ignasi Aballí.
Primeira paragem: Faro
Mas comecemos por Faro. No Museu Municipal, convivendo com as colecções do museu, principalmente de arqueologia e etnografia, estão duas instalações, pertencentes à Colecção Berardo, de dois americanos "pesos-pesados" da arte contemporânea - “Il Vapore” (1975) de Bill Viola e "Fargo, Blue" (1967) de James Turrell. Bill Viola é um dos precursores do uso do vídeo nas artes plásticas e James Turrell é muito conhecido pelas suas instalações de grande escala em que desafia a percepção e experiência sensorial do espectador.
"Il Vapore" está colocada numa capela do antigo Convento de Nossa Senhora da Assunção, hoje Museu Municipal de Faro. Nada parece mais apropriado – instalada no que julgamos ser o espaço do altar, a instalação convoca o espectador à meditação. Podemos até sentar-nos, de pernas cruzadas, em frente a um pote que ferve folhas de eucalipto. Do outro lado um monitor em que vemos a nossa imagem sobreposta à do próprio artista, em pose de meditação.
Num outro andar do museu está "Fargo, Blue" (1967) a projecção de um gigante quadrado de luz azul numa sala escura, faz o espectador redimensionar o espaço onde se encontra.
Mesmo ao virar da esquina do Museu está a Fábrica da Cerveja. Os cerca de 3000 metros quadrados de salas de variadíssimas configurações recebem “Articulações”, exposição comissariada por Nuno Faria que tem também duas extensões em Loulé. É fácil perdermo-nos pelas salas da antiga fábrica, cheias de instalações, peças feitas propositadamente para o local e, por vezes, peças subtis, quase invisíveis. Projecções de filmes de Ângelo de Sousa ou Sérgio Taborda, esculturas de Leonor Antunes ou Francisco Tropa, instalações de Ricardo Jacinto, dos brasileiros Fernanda Gomes e Nelson Félix, desenhos murais, por exemplo, do romeno Dan Perjovschi (que expôs o ano passado na Culturgest do Porto) disseminados pelo espaço expositivo como se de graffiti se tratasse.
Ainda em Faro e bem perto também do Museu Municipal e da Fábrica da Cerveja, está a Galeria Municipal de Arte Trem que depois de uma exposição de pintura de Jorge Martins, apresenta (a partir de 9 de Agosto) a exposição “Transparências” de Gerardo Burmester. Bem perto de Faro, em Almancil, está “Finisterra”, uma mostra associada ao programa Allgarve, organizada pela jovem comissária Maria do Mar Fazenda. Centrada à volta da ideia de paisagem é apresentado, até 25 de Agosto, o trabalho de Hugo Canoilas na Galeria de Vale do Lobo, e até 28 de Agosto, as obras de Gonçalo Sena, Luís Nobre e Renata Sancho, num outro espaço, o Centro Cultural São Lourenço.
Tal como Finisterra, The Storyteller, uma grande instalação “site-specific” de João Pedro Vale, é uma exposição associada ao programa Allgarve. O artista foi convidado a conceber uma instalação para as ruínas romanas do Museu Arqueológico do Cerro da Vila, em Vilamoura. Inaugurada no passado dia 19 de Julho (e até 15 de Setembro), “The Storyteller” envolve um percurso imaginário que "levanta", por meio de tendas, algumas das divisões e espaços da antiga estrutura romana. A “nova vila”, erguida pelo artista, é constituída por coloridas tendas que fazem referência tanto a épicos de Hollywood como a elementos da arquitectura tradicional portuguesa e também a alguns ícones arquitectónicos algarvios, como, por exemplo, as chaminés. Algumas das tendas funcionam também como salas de visionamento de um vídeo em estilo documental em que podemos ver depoimentos de variadíssimas personalidades, como, por exemplo, o arquitecto Pedro Gadanho, o historiador Anísio Franco, ou Paulo China, dono de vários restaurantes em Vilamoura.
Arte na Mina de Sal-Gema
Um pouco mais a norte, em Loulé, estão as duas outras exposições parte de “Articulações”. No Convento de Santo António estão esculturas, desenhos e intervenções específicas de dois artistas de diferentes gerações. Rui Sanches é um dos nomes importantes da escultura portuguesa da segunda metade do século e Rui Moreira tem desenvolvido o seu corpo de trabalho concentrando-se essencialmente no suporte desenho. As obras dos dois autores articulam-se com o espaço do convento e as suas peculiaridades - a nave do edifício encontra-se restaurada, mas o seu claustro de dois andares ainda está em ruínas.
É também em Loulé que podemos descer a 300 metros de profundidade para ver o “Museu Abissológico” de João Maria Gusmão e Pedro Paiva. As paredes escuras da Mina de Sal-Gema recebem objectos/esculturas, filmes em 16mm e também algumas obras feitas propositadamente para este local tão particular.
Mas João Fernandes, o director do Museu de Serralves, não convidou apenas comissários especialistas em arte plásticas contemporâneas - Luís Tavares Pereira, o curador de “Reacção em Cadeia, Transformações na Arquitectura do Hotel”, que ocupa a Quinta da Fonte da Pipa e o Lagar das Portas do Céu, em Loulé, decidiu pensar a arquitectura de hotéis através não só da apresentação de projectos, a mais vulgar "exposição de arquitectura", mas também através da fotografia, de Paulo Catrica, e da escrita, de Jorge Gomes Miranda.
E se continuarmos pelo barlavento algarvio a próxima paragem é Lagoa. É ai que estão, no Convento de São José, as três obras do importante artista sul africano - William Kentridge – pertencentes à Colecção Ellipse - "Seven Fragments for Georges Méliès", "Journey to The Moon" e "Day for Night". "Seven Fragments for Georges Méliès", a instalação central, é composta por sete projecções vídeo que mostram o artista no seu estúdio e prestam homenagem ao início do cinema e ao pioneiro George Méliès.
PHotoEspaña em Portugal
Em Portimão encontramos uma extensão da PHotoEspaña 2008 em Portugal, este ano comissariada pelo português Sérgio Mah. “Sem Actividade” apresenta obras do artista espanhol Ignasi Aballí. O título faz referência ao local de exposição - o Museu de Portimão, antiga fábrica de conservas. O trabalho de Aballí, de cariz conceptual, centra-se numa contínua reflexão sobre os processos e os materiais da criação artística, principalmente da pintura e da fotografia. “Sem Actividade” reúne duas séries - "Luz (Ventanas)", de 1993, um conjunto de sete grandes painéis feitos de cartão que reproduzem a forma exacta das janelas do atelier do artista em Barcelona, e "Manipulaciones", de 2008, uma série inédita em que se vêem várias mãos a realizar diferentes operações técnicas a aparelhos fotográficos. Para além destes trabalhos, a exposição tem algo curioso: também presente está a própria máquina fotográfica do artista, que por este facto se torna, durante o período da exposição, num "objecto de museu".
Pensar a diversidade cultural das cidades
E recuperemos o fôlego na próxima paragem, Lagos. “Mundos Locais: Espaços, Visibilidades e Fluxos Transculturais” foi a primeira exposição de arte contemporânea a inaugurar no Allgarve 08. Comissariada por Lúcia Marques e Paula Roush, esta exposição partiu da cidade de Lagos para pensar a diversidade cultural das cidades de hoje. A escolha de artistas recaiu em nomes conhecidos, como Ângela Ferreira ou Renée Green, mas também em artistas mais jovens como Francisco Vidal, Ricardo Valentim, Gustavo Sumpta, Susana Guardado ou Ynaiê Dawson. Para além da exposição central dividida por dois locais próximos, o Centro Cultural de Lagos e o Forte Pau da Bandeira, esta exposição também promove um programa paralelo ao longo dos meses de Verão em que se cruzam as artes visuais e as artes performativas - com concertos, performances, conversas, ciclos de filmes e sessões de "Personal DJ" (pela artista e DJ, Susana Guardado).
Mas a caminhada não pára porque uma das exposições centrais deste Allgarve está está disseminada um pouco por todo o lado, e é por isso, por vezes, mais difícil de “encontrar”. João Fernandes decidiu fugir aos espaços expositivos e museológicos. As obras escolhidas foram colocadas pelo Algarve fora - em praias, no aeroporto, nas ruas, num jardim, numa antiga lota. “Holidays in The Sun”, o título da exposição comissariada por João Fernandes para esta segunda edição do Allgarve é "roubado" a uma música dos Sex Pistols de 1977 em que a banda ironizava sobre o contraste entre a ideia de lazer e de férias com os problemas políticos e sociais do mundo.
Qualquer veraneante pode então encontrar, obras de Miguel Palma e João Tabarra no meio do aeroporto de Faro, uma série de motos brancas pelos jardins da Quinta da Fonte da Pipa, em Loulé – uma obra de Claude Lévêque, obras de Xana nas Praias de São Rafael e Praia de Santa Eulália (Albufeira), Praia da Quarteira (Loulé) e Praia da Rocha (Portimão), instalações de Fernanda Fragateiro, Tobias Rehberger e Thomas Hirschhorn na antiga lota na Zona Ribeirinha de Portimão, outdoors de Rogelio López Cuenca fixados pela cidade de Faro, e finalmente gelados, feitos de apenas água mineral (e sem glúten!) do brasileiro Cildo Meireles à porta da Fábrica da Cerveja e dentro do Museu Municipal, em Faro.
E terminamos a viagem no sotavento algarvio, mais especificamente em Tavira, onde encontramos no Palácio da Galeria – Museu Municipal de Tavira uma grande retrospectiva da obra de Pedro Cabrita Reis (até 21 de Setembro). Comissariada por Marta Almeida, conservadora do Museu de Serralves, “Colecções Privadas” é uma exposição antológica que apresenta dezenas de obras do conhecido autor, pertencentes a variadíssimas colecções nacionais, privadas e de museus. Esta iniciativa faz parte do habitual “Verão em Tavira”, e é a única grande exposição do Verão “a sul”, a não ter qualquer ligação ao programa Allgarve.
Fonte: Público Última Hora
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