
Amanhã à noite
Casa da Música coloca hoje 200 pessoas num palco, com o projecto “Sonópolis”
18.07.2008 - 20h55 Joana Caldeira Martinho
Casa da Música coloca hoje 200 pessoas num palco, com o projecto “Sonópolis”
18.07.2008 - 20h55 Joana Caldeira Martinho
“Quando voltamos ao segundo A, as guitarras e o Miguel começam, e depois faço isto [gesto com a mão] e paramos. Trazemos as cordas e as vozes e fazemos o último A, só vozes, a capella”. Esta frase é ininteligível para qualquer pessoa, menos para os 16 formandos do III Curso de Formação de Animadores Musicais da Casa da Música (CdM), que ouvem atentamente a explicação da estrutura da peça que amanhã à noite vão tocar e orientar.
Juntaram-se a grupos tão diferentes como a banda da Associação Musical e Recreativa de Lagares, um ensemble de guitarras e baixos eléctricos, o grupo do projecto Pular a Cerca do Programa Escolhas, a orquestra de cordas da Escola de Música de Perosinho e o coro Cor da Voz da Santa Casa da Misericórdia da Maia, no projecto “Sonópolis”, da CdM. O produto final é amanhã apresentado na Praça da Casa da Música, às 21h30 – a entrada é gratuita – e consiste numa peça musical original, interpretada por mais de duas centenas de pessoas.
O resultado final é um puzzle das peças compostas por cada grupo, articuladas ao sabor das indicações dos três “maestros” britânicos. A ausência de formação musical de alguns grupos, em oposição ao elevado conhecimento de outros, obriga os formandos a desenvolver “tempos de resposta mais rápidos e capacidade de falar outras linguagens musicais”, sublinha o coordenador da iniciativa, Paulo Rodrigues.
No caso da orquestra da Escola de Música de Perosinho, a mais-valia deste projecto para os alunos são as novas experiências. “[Eles puderam] trabalhar áreas que não desenvolveram tanto, como a improvização e o jazz, e também articular-se com outros grupos menos formais”, diz João Costa, líder da orquestra. O coro Cor da Voz, que une beneficiários do rendimento mínimo a idosos de um lar de terceira idade e a professores aposentados, por seu lado, não tinha nenhum tipo de experiência musical e foi criado no âmbito deste projecto. “A minha grande satisfação é que o coro vai vingar depois disto”, diz Jorge Prendas, do serviço educativo da Casa da Música, que trabalha semanalmente com o coro. As dificuldades surgem, mas “são todas superadas pela vontade”, explica Jorge Prendas, e fala-nos da D. Albina, de 90 anos, que não sabe ler nem escrever, mas que, “através da repetição e audição”, aprendeu a letra completa de uma canção tradicional búlgara – a única peça não original de todo o espectáculo.
Esta diversidade deslumbra Tim Steiner, da direcção musical, que há 20 anos trabalha com música nas comunidades, mas que nunca tinha lidado “com um leque tão diverso de idades e experiências”. Como compositor, acha “muito mais fácil fazer música com as comunidades do que tocar um repertório do século XIX com uma orquestra”. Para o músico britânico, projectos como estes desafiam a noção de educação musical. “Muitas vezes a educação musical é sobre está certo ou errado, em vez de ser sobre a criatividade musical e sobre encontrar o tipo de música de cada um. Para mim, a única coisa errada [na música] é não se ser verdadeiro para si próprio”, acrescenta.
Fonte: Última Hora/Público
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