LAURA BRASIL
"No cinema não é possível falarmos de coisas que nunca sentimos"

Sónia Bettencourt
É estudante de cinema, tem 17 anos de idade, e viu dois dos seus projectos seleccionados, na área do Vídeo, para integrar a Mostra Labjovem, no âmbito do Concurso de Jovens Criadores dos Açores.
Trata-se de Laura Brasil, nascida em 1989, natural de Angra do Heroísmo, e dos seus vídeos “A Porta” e “Pedaços”, que apesar de não serem histórias autobiográficas, incluem partes das suas vivências.
Nesta fase académica, na Escola Superior de Teatro e Cinema, em Lisboa, Laura Brasil terá que escolher entre Argumento e Realização.
Se esta decisão está ainda pouco definida para a jovem estudante da Sétima Arte, Laura Brasil garante que se no futuro vier a tornar-se realizadora quer escrever as suas próprias histórias.
Vídeos Vencedores
Foram trabalhos realizados o ano passado, quando frequentava o décimo segundo ano, na disciplina de Oficina de Artes, leccionada pelo professor António Araújo.
Laura Brasil classifica a “A Porta”, um vídeo com duração de três minutos, composto por 15 fotografias, com o objectivo de falar da “nossa cidade, a nossa Angra”, em que a jovem optou por fazer ligação entre a sua vida e aquilo que sentia através de uma porta, vivendo na altura em Angra do Heroísmo.
Já o projecto “Pedaços”, uma curta-metragem de 20 minutos, trata a história de uma rapariga e a sua íntima ligação com o Mar. Para a personagem do filme, a vida não tem valor e deseja morrer no Mar, para depois ser salva por um “poeta”, o Bartolomeu, que lhe devolve todo o valor que vida tem.
Segundo Laura Brasil, quando imaginou aqueles projectos, sobretudo o “Pedaços”, um trabalho livre que tinha em mente já há algum tempo, “nunca pensou no público” a atingir, embora defenda que “o cinema é feito para o público”. A jovem sentia apenas que era um trabalho que tinha que “pôr cá para fora”, que não conseguia avançar se não o fizesse, explicando que “como há pessoas que têm de escrever no Diário, eu tinha de fazer aquele trabalho”, ao modo de libertação.
Embora os vídeos não tenham sido realizados de propósito para participar no concurso LabJovem, Laura Brasil recebeu com agrado a noticia que tinha sido uma das seleccionadas.
Escola de Cinema
Laura Brasil adianta que antes de entrar na Escola Superior de Teatro e Cinema, onde frequenta o primeiro de quatro anos, “já conhecia um pouco” daquela realidade. A jovem considera uma “boa escola”, embora naturalmente hajam “muitos trabalhos a fazer” e “muita carga horária”. Além disso, em termos de adaptação, “não acontece de um dia para o outro”, mas sente-se “satisfeita”.
Dos trabalhos que já realizou na Escola, um deles foi rodado na ilha Terceira, nas férias do Natal. O projecto para a disciplina de Argumento acabou por ser um registo daquilo que estava a sentir ao regressar à sua terra, pela primeira vez, desde que se mudara para Lisboa.
A jovem explica que escreveu uma história em que a personagem, apesar de ter “duas casas” sentia que não pertencia a nenhuma delas, sendo que uma significava o “passado” e a outra o “presente”. Considerando a autobiografia uma constante no seu trabalho como estudante de cinema, Laura Brasil refere que “sempre coloca um pouco de si” nas histórias, devido a que no Cinema, e sobretudo no Cinema que conta histórias, “não é possível falar de algo que nunca sentimos” antes, porque “não sabemos falar ainda”, justifica.
Na Escola é necessário conhecer e passar pelas várias fases que um filme compreende, tal como criação da história, anotação, rodagem, montagem, realização, etc., sendo que nesta fase académica, Laura Brasil admite estar “um pouco confusa”. Quando entrou para a Escola “sem dúvida queria Argumento”, mas, apesar de gostar de escrever, desde criança, a jovem adianta que “pensa muito em imagens”, e que agora, com a prática académica, confessa que como dá muito de si ao trabalho, “o melhor será a Realização”. No entanto, admite que se um dia for Realizadora quer “escrever as suas histórias”, de moda a que possa sentir-se “completa”.
Terceira com sete vencedores
Ao todo foram 27 os jovens açorianos seleccionados nas 10 áreas a concurso, que compreendem Literatura, CiberArte, Artes Plásticas, Música, Teatro, Dança/Performance, Vídeo, Fotografia, Design Gráfico e Banda Desenhada e Ilustração, sendo que a ilha Terceira obteve 7 vencedores, nas áreas de Artes Plásticas: Cátia Guimarães (dois projectos e bolsa de estudo); Paulo Freitas (um projecto); Vídeo: Laura Brasil (dois projectos) e Soraia Bettencourt (um projecto); Banda Desenhada-Ilustração: Filipe Rocha e Bruno Moniz (um projecto); Dança/Performance: Paulo Freitas (um projecto e bolsa de estudo)e Fotografia: Soraia Bettencourt (um projecto e bolsa de estudo) e Luís Peixoto (um projecto).
O concurso
O concurso LabJovem trata-se de um projecto que visa incentivar e promover jovens criadores das diferentes áreas artísticas, servindo de plataforma a uma nova gerações de artistas açorianos.
As áreas contempladas pelo concurso são: Artes Plásticas, Banda Desenhada e Ilustração, Ciber Arte, Dança/Performance, Design Gráfico, Fotografia, Literatura, Música, Teatro e Vídeo.
Do concurso resultou uma selecção de projectos que serão apresentados nos Açores sob o formato de Mostra Regional, que engloba exposições, espectáculos e mostras.Além da Mostra Regional, foi também seleccionado pelo júri do concurso LabJovem um projecto ao qual será atribuída uma bolsa de estudo de curta duração no estrangeiro ao respectivo autor.
Esta iniciativa é promovida pela Direcção Regional da Juventude e organizada pela Associação Cultural Burra de Milho.
Publicado na edição de Segunda-Feira, dia 25 de Fevereiro de 2008, no jornal A União, na secção Actualidade
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